Antônio Pereira – Jornalista e escritor

Talvez não tenha procurado direito. Não encontrei nenhuma escola, de qualquer nível, que homenageasse o italiano Carmo Giffoni. Bruta injustiça. Pouca gente trabalhou tanto pela educação em Uberlândia quanto esse homem. Outros deram muito de si neste mister, porém, todos, por obrigação istrativa ou profissional. Carmo Giffoni não tinha nenhum compromisso com a educação. Não era professor, não era aluno, não tinha colégio, não vendia cadernos, livros ou borrachas, nem faço idéia do seu nível de educação escolar.
Nasceu em Tortorella, província de Salerno. Veio muito novo para o Brasil, com seus pais. Foram para Monte Alegre. Aí, fez seus estudos primários e trabalhou como radiotelegrafista. Ainda jovem veio para Uberabinha onde constituiu família. Foi grande comerciante, atacadista para todo o Brasil Central. Pelos seus balcões aram futuros grandes comerciantes, como Joaquim Fonseca, Galeano Torrano, Agesileu Grecco e outros. Em 1921, organizou a Sociedade Anônima Progresso de Uberabinha com o objetivo de construir um prédio digno de um bom ensino a ser aplicado aos meninos da cidade. Nossa gente sempre teve essa visão alargada das coisas que quer. Uberaba tinha uma escola grande e boa, a mais famosa da região, o Colégio Diocesano. A meninada daqui ia toda pra lá. Araguari tinha o Regina Pacis, cujo majestoso prédio, com ligeiras modificações ainda está lá, na entrada da cidade. Uberabinha tinha o que? Não tinha nada. Com mais de 30 anos de existência, o município tinha um único prédio construído especificamente para ser Escola primária, o Grupo Escolar Bueno Brandão. Mas o Giffoni queria um prédio melhor para um ginásio que pudesse receber a equiparação ao d. Pedro do Rio de Janeiro, o que significava que ele próprio aplicaria suas provas finais. Porque não era assim. A meninada daqui, quando chegava ao fim do ginásio, ia fazer provas em colégios de fora que tinham essa equiparação. Não foi fácil. Giffoni teve que agregar ao seu projeto ferrenhos adversários políticos: cocões e coiós brabos. Todos tinham que ajudar. Tudo foi minuciosamente estudado para que o imóvel abrigasse condignamente um bom ensino. Local, vizinhança, arborização, distância do centro, tamanho, pátio. Tudo pesado e medido deu nesse prédio até hoje vistoso do Colégio Estadual, “museu”.
Concluído o prédio, em 1922, entregou-se o ensino ao melhor colégio da cidade, o Gymnasio de Uberabinha, do professor Luiz Silveira. Neste ano, Giffoni elegeu-se vereador e assumiu em 1923. Era uma sequência para o seu trabalho pela educação. A Câmara era constituída por 11 vereadores: sete eram cocão, inclusive o Giffoni. E o que fez o nosso vereador? Nada. Nem à Câmara ia, mas sua personalidade era tão digna que ninguém teve a coragem de sugerir a sua cassação. Fez uma coisa apenas: mudou o ensino da cidade. No dia seguinte à posse, 2 de janeiro, ele apresentou seu projeto de lei criando uma Lei Educacional para Uberabinha, um Programa de Ensino Municipal, com o intuito de “regular completamente a educação primária” e criar escolas. No dia 7 de março de 1923, o projeto, já com sua redação final, foi aprovado. A Lei 278 propunha criar sete escolas rurais, fixar dignamente o salário dos professores, subsidiar escolas particulares, exigir concurso público para professores, recriar a Inspetoria Escolar, criar prêmios para os melhores professores, definir o número de alunos para cada Escola, responsabilizar (com multa) pais e patrões pela freqüência dos alunos, definir horário das aulas, ano letivo e feriados, direito de licença do professor, proibir castigos físicos, condenar a decoração e a soletração, definir a matrícula e os registros, garantir o ingresso de alunos pobres no ensino secundário, constituição da banca e criar a Caixa Escolar que recebia, de imediato, um empréstimo da municipalidade.
Não sei quanto tempo durou isso. Sei que o outro grande político que também mudou o ensino em Uberlândia, só o fez quase 50 anos depois. o Renato de Freitas. Fontes: Tito Teixeira, Willian Douglas Guilherme.